Antes de ler, acesse o link a seguir sobre a história da Monarquia e da República Romana, onde você entenderá sua dissolução e o surgimento do Império com Otávio Augusto em 27 a.C.: https://diariodeumfuturohistoriador.blogspot.com/2022/08/roma-origem-e-republica.html
Pax Romana
“Otávio Augusto inaugurou um período de relativa paz interna que durou 250 anos (31 a.C – 235 d.C). Esse período ficou conhecido como a Pax romana” (FUNARI, 2021, p. 100). Nesse tempo a infraestrutura romana foi sendo desenvolvida a permitir que postos militares estivessem espalhados por todo o Império, de forma a possibilitar uma administração burocrática eficiente e rápida na solução de problemas. Isso não quer dizer que durante esse tempo não houve revoltas, houve várias mas todas elas foram esmagadas com certa velocidade.
A integração das províncias no exército contribuiu bastante para a difusão da cultura romana e do latim. Os destacamentos que permaneciam nos locais conquistados e as colônias fundadas permitiam um maior controle de insubordinações e tratamento legal respeitando os costumes locais. “O Estado Imperial romano se baseava em um sistema de leis civis, não no mero capricho régio, e sua administração pública nunca interferiu muito no diagrama legal básico estabelecido pela República” (Ibid., p. 84). Contudo, segundo Funari (2021, p. 102), para uma imensa população, de até 50 milhões de habitantes, “o exército contou, no máximo, com 390 mil homens e a burocracia imperial tampouco foi muito grande, o que demonstra a importância da cooptação das elites locais para a manutenção do Império”.
Sendo assim, as províncias foram organizadas em “províncias senatoriais com governadores apontados pelo Senado e sem tropas, e as imperiais, com administradores militares indicados pelo imperador” (Ibid., p. 102). Uma dessas províncias imperiais foi a Judeia, que se revoltou entre 66 e 70 d.C. contra o domínio romano e contra a “profanação do templo”. Segundo Guarinello (2013, p. 146), essa “foi a maior revolta de um centro político e de uma etnia na história do Império”. Nesse tempo surgiu um Homem com 30 anos de idade, chamado Jesus, da cidade de Nazaré, que pregava o arrependimento de pecados, o amor a Deus e ao próximo, a Vida Eterna e a fé nEle como O Filho de Deus, e como O Cristo que havia de vir ao mundo. Entregue aos romanos pelas principais autoridades do povo judeu, Jesus foi crucificado e morto. Segundo o cumprimento de diversas profecias da Lei de Israel e de acordo com testemunhas oculares, Ele ressuscitou e enviou seus discípulos para pegar as “boas novas” da salvação por todo o mundo. O que de fato aconteceu e só esquentou os ânimos dos imperadores romanos que se consideravam deuses, iniciando brutais perseguições aos discípulos do Nazareno, os quais foram chamados de “cristãos” pela primeira vez em Antioquia da Síria (c. 43 d.C.).
Declínio
Alguns motivos que levaram ao fim do período de "paz" romano foram: as invasões germânicas no Danúbio e no Reno durante o reinado de Marco Aurélio e sua morte em 180 a.C.; a promulgação do Edito de Caracala, em 212 d.C., que estendeu a cidadania romana a todos os habitantes livres do Império; o ressurgimento do império Sassânida em 224 d.C.; as guerras civis entre 230 e 260 d.C. e a falta de centralização política para enfrentar as revoltas, causando uma diminuição no território e a falta de expansão e consequente mão-de-obra escrava, "desorganizando a economia com dramáticas consequências sociais e políticas" (ANDERSON, 2016, p. 143).
Entretanto, foi exatamente nessa época que o cristianismo se consolidou com grande número de convertidos, apesar das inúmeras perseguições. Com o governo de Diocleciano (284-305), “há uma reorganização administrativa do Império, com a criação de novas e menores unidades administrativas e a divisão do poder entre quatro imperadores (293)” (Ibid., p. 145). Essa tetrarquia era estabelecida com um Augusto no Oriente e outro Augusto no Ocidente, sendo “auxiliados” por um César em cada parte.
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Catacumba Romana com gravuras feitas pelos primeiros cristãos |
Divisão
Mais tarde, durante o governo de Constantino que deu liberdade de culto aos cristãos (com o Edito de Milão, em 313 d.C) e foi o primeiro imperador romano a se converter ao cristianismo, Roma nunca mais seria a mesma. Fundando Constantinopla em 330 d.C., transportando a capital romana para fora de Roma, já anunciava uma tentativa de soerguimento no Oriente diante da já constatada degeneração administrativa e política no Ocidente. Com a morte de Teodósio I em 395 d.C., o Império foi formalmente dividido entre seus flhos Honório e Arcádio. Enquanto a parte Oriental experimentava um florescimento comercial e cultural, a parte Ocidental tentava desesperadamente se manter resistindo aos avanços “bárbaros”, o que não seria mais capaz com o saque de Roma pelos visigodos em 410 e o destronamento de Rômulo Augusto por Flávio Odoacro, líder dos hérulos.
O cristianismo tem sido acusado de envolvimento na queda do Império Romano, como tendo constituído uma força divisora interna. Na realidade, a Igreja teve seu papel nos esforços para salvar o reino. O próprio Agostinho escrevera persuasivamente que a fé de Jesus não condenava as guerras. Era opinião corrente que um fiel podia combater para defender seu país contra os agressores… Muito provavelmente, a dissolução gradual do Império resultou principalmente de a segurança do Estado depender de generais e tropas bárbaras (VISALLI, 199, p. 278-279).
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Império Romano Ocidental (em vermelho) e Império Romano Oriental (em roxo) |
Queda
As tribos germânicas não possuíam uma cultura urbana como os romanos, levando à ruralização da Europa e ao consequente Feudalismo. As trocas comerciais foram interrompidas para só voltarem mais fortes a partir do século XI. Apesar da coroação de Carlos Magno como imperador do Sacro Império Romano em 800 d.C., as bases de um império formado por cidadãos romanos militarizados envolta de uma grande cidade-estado aristocrática senatorial nunca mais existiriam. O SPQR (Senatus Populusque Romanus - "Senado e o Povo Romano") havia definitivamente chegado ao fim.
Referências
ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Tradução de Renato Prelorentzou. São Paulo: Editora Unesp, 2016.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6° ed. São Paulo: Contexto, 2021.
GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013.
VISALLI, Gayla (ed.). Depois de Jesus. Rio de Janeiro: Seleções Reader’s Digest Brasil, 1999
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