A origem das cidades-estados, segundo o historiador Noberto Guarinello (2013), está no desenvolvimento do artesanato e do comércio; o intercâmbio resultante entre as diferentes cidades e povos, gerando trocas culturais e fusão de crenças religiosas; a separação das terras cultiváveis e de pastagem; e a organização do trabalho coletivo na construção de templos, muralhas e, principalmente, espaços públicos, a palavra-chave de uma pólis. Sem o espaço público não há polis. A cidade não é apenas um conglomerado urbano, mas palco das decisões políticas cotidianas, lugar de fala e poder, seja de forma democrática como Atenas ou oligárquica como Roma.
Na constituição legal, social e econômica das cidades-estados latinas e gregas, podemos perceber diversas semelhanças e diferenças entre elas. Algo que une todas elas é a presença do espaço público. "Reconhecemos uma pólis grega por sua ágora e uma pólis latina por seu fórum. É o que as diferencia dos oppida, sobre os quais ainda paira a dúvida se eram pólis ou não" (GUARINELLO, 2013, p. 82). Na Grécia, as "terras e rebanhos pertencia a grandes proprietários" (FUNARI, 2021, p. 26), que conseguiram reduzir o papel do rei, tornando-se de fato dirigentes das cidades. "Formavam um conselho soberano e administravam a justiça em nome de um direito tradicional pautado por regras mantidas em segredo". Já os excluídos por diversos motivos como fome, invasões, derrotas políticas, assim como miseráveis e aventureiros que buscavam uma vida melhor, formavam grupos reunidos em torno de um chefe e organizavam povoados ligados econômica e culturalmente à cidade grega de origem "fazendo surgir novas cidades ou "colônias" gregas em torno do Mediterrâneo" (2021, p. 27). Em Roma, ocorre algo similar com a derrubada da monarquia etrusca pelos patrícios em ascensão em detrimento do restante do povo, os plebeus, clientes e escravos. Entretanto, em ambas regiões, diversos conflitos romperam e reformas foram feitas no século VI em Roma com uma república oligárquica e Atenas com o governo dos tiranos. Em Roma vimos a organização dos tribunos da plebe, o Senado, a escrita das leis em Doze Tábuas e uma política baseada nas ordens militares. Na Grécia tínhamos os hilotas e os éforas em Esparta, a Bulé e os arcontes em Atenas, colonizadores antigos, recentes e mercenários em Siracusa, e o trabalho para a produção do lucro entre os cartagineses, que estes no início possuíam uma oligarquia mas, a partir do século III a.C. parecem ter tido uma democracia aos moldes atenienses.
Nessas cidades havia uma divisão originalmente por nascimento, onde os mais bem prestigiados, ricos e administradores da cidade seriam os descendentes das famílias mais importantes e de heróis míticos, e os outros de famílias não tão importantes, no caso, o restante de todo povo, seriam os que se ocupariam, geralmente, de atividades braçais. Em Atenas, por exemplo, com as Reformas de Sólon no início do século VI a.C., a divisão social sai de uma ordem por hereditariedade para uma separação por riqueza, entre os capazes de produzir 500 medidas de de grãos (medimmnoi) os que possuíam cavalos (hyppeis), os guerreiros (zeugitas) e os sem posses (tethas). O historiador Perry Anderson diz que o trabalho escravo formou a base da atividade intelectual e pública das cidades-estados. Já o arqueólogo Pedro Funari demonstra como a escravidão e a democracia foram faces diferentes da mesma moeda. Havia uma rígida estrutura social em todas as cidades gregas, mas com diferentes níveis e peculiaridades em cada uma e com graves conflitos sociais entre camponeses e artesãos de um lado, e administradores e produtores rurais de outro. Entre os "muitos" (plethos)" e os" poucos" (aristocratas).
Referências
ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Tradução de Renato Prelorentzou. São Paulo: Editora Unesp, 2016.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6° ed. São Paulo: Contexto, 2021.
GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013
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