A Antropologia do século XX só pôde ter suas maiores “experiências etnográficas” francesas a partir da década de 30 até a década de 80. Já o pioneirismo americano e inglês de Morgan e Tylor desenvolvido respectivamente por Boas e Malinowski, através de seus “sucessores” tanto americanos (Benedict e Mead por exemplo) quanto ingleses – como exemplo: Radcliffe-Brown, – tiveram suas ideias já presentes e exportadas desde o início do século. Nesse momento, Lévi-Strauss irá tornar a Antropologia francesa um rede complexa de teorias ligadas à Sociologia francesa, conceitos culturais de Boas e ao marxismo históricos-dialético, uma das maiores contribuições antropológicas da atualidade. Posteriormente, Geertz irá desenvolver um lado muito mais específico da Antropologia ligadas às ideias da Sociologia Compreensiva de Weber e análise crítca das obras de Lévi-Strauss.
Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009) foi um antropólogo, professor e filósofo francês que delineou as principais fontes teóricas e etnográficas da antropologia francesa contemporânea através da sua “Antropologia Estruturalista”. Lévi-Strauss procurou estabelecer vínculos e desvínculos entre a natureza e a cultura. Para ele, as regularidades encontradas na natureza seriam de cunho biológico, enquanto as regularidades da cultura seriam dadas pela organização social. O lugar onde a universalidade da cultura e a natureza se encontrariam seria na proibição do incesto presente em todas as culturas, variando suas penalidades desde “simples” reprovações até a morte do culpado. A partir disso, ele irá estabelecer estruturas elementares de parentesco se utilizando muito dos seus estudos de Linguística, logo, conceituará estruturas sociais enquanto “construções de modelos a partir da realidade social” (CHICARINO, 2014:134). Para se aprofundar em seus estudos irá buscar consolidar ideias inicicadas por Boas e Freud sobre o Consciente e o Inconsciente, procurando, por exemplo, através dos mitos (anaclástica) investigar estas relações: como os mitos pensam os homens e não o oposto. Através de ideias como do inconsciente social, suas obras das Mitológicas foram amplamente divulgadas pelo mundo. Para ele, "o tempo, por exemplo, não precisa ser histórico linear, podendo ser o tempo das lendas, o tempo mítico ou outras divisões que forem adequadas à pesquisa”. Destarte, "os modelos de espaço podem ser construídos por meio de vários recortes que interessem à pesquisa, por exemplo, o plano da aldeia, uma habitação, o espaço da casa ou de um ritual” (2014:135). Avançando em seus estudos, o antropólogo francês pôs que as "estruturas são tentativas de ‘formular um modelo total de uma sociedade’”. Portanto, o etnólogo se pergunta sempre “se as estruturas de ordem que constrói correspondem à realidade ou se são pressuposições distantes do real" (2014:136). Essas Estruturas de Ordem podem ser divididas em ordens vividas, que independem das representações que os homens fazem delas, sendo mais objetivas, e em ordens concebidas, mais próxima de uma realidade subjetiva como os mitos e os ritos. "Tudo pode acontecer num mito; parece que a sucessão dos acontecimentos não está aí sujeita a nenhuma regra de lógica ou de continuidade. Qualquer sujeito pode ter um predicado qualquer; toda relação é possível”. (2014:136). Assim, "se o relato mítico 'bate' com a realidade, o reforço vem pela semelhança; se, ao contrário, contradiz a realidade, reforça pela diferença” (2014:139).
Lévi-Strauss |
C.Lévi-Strauss procurando falar um pouco sobre o “pensamento selvagem” disse que este é baseado no princípio de que “se não se compreende tudo, não se pode compreender coisa alguma”, enquanto o pensamento científico "é compartimentado bem como os interesses dos indivíduos sendo delimitado e progredindo etapa por etapa”, logo, os povos sem escrita possuem “um conhecimento exato de seu meio e de todos os seus recursos, enquanto nós temos conhecimentos parciais ou especializados” (2014:141).
Já Clifford James Geertz (1926 – 2006) foi um antropólogo estadunidense muito importante para a Antropologia Americana e mundial que se tornou muito conhecido por fixar balizas nas suas definições mais concretas, buscando criar uma “Antropologia Interpretativa”, baseada num “estilo individual de produzir insights, no lugar da grande teoria arrumada” (2014:142).
Geertz |
C.Geertz era a favor de um conceito mais limitado e fixo e cultura, algo mais semiótico, entendedo-a “como processos comunicativos que ocorrem por meio de mediações codificadas”, numa “ciência interpretativa à procura do significado” (ibid.). É um conjunto de textos todos plenos de significados. Portanto, o etnológo pode “comçar em qualquer lugar e terminar em qualquer outro lugar”. Dessa forma, o objeto de estudo da etnografia seria “uma multiplicidade de estruturas conceituais complexas […] que podem ser percebidos e interpretados de modos diferentes e de acordo com suas particularidades” (2014:144). O importante seria tentar encontrar o “fio” das interpretações da cultura estudada, sendo uma tarefa composta de uma “descrição densa”.
Referências
CHICARINO, T. (Org.). Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson, 2014, p. 117-151.
LAPLATINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 129-139.
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