Por volta de meados do século XX, o arqueólogo britânico Bernard Fagg (1915 – 1987) encontrou acidentalmente, durante uma mineração de estanho aluvial, nas proximidades da vila de Nok, no centro da Nigéria, esculturas artísticas de terracota representando animais e humanos pertencentes a uma cultura singular. A Cultura Nok, como ficou conhecida, teve seu mapa feito e ampliado após descobertas de outras localidades com o mesmo padrão de esculturas, se estendendo aproximadamente de norte a sul por cerca de 500 quilômetros do centro da Nigéria. Supõe-se que as terracottas de Nok representem as “esculturas figurativas mais antigas conhecidas até agora da África Subsaariana” (AMEJE; BREUNING; RUPP, 2005 p.283). Da mesma forma, podem oferecer a “primeira evidência de especialização artesanal" nas culturas da África ao sul do Saara (2005, p.284).
Escultura NOK |
Todavia vale destacar que não foi apenas materiais de terracota que foram encontrados. Fagg escavando em Taruga descobriu locais de fundição de ferro com achados de Nok associados datados de meados do primeiro milênio a.C. Assim, a Cultura Nok pertence aos primeiros complexos com ferro na “África Negra” e representa uma “variedade local de mudanças culturais e descontinuidades que ocorreram nas savanas da África Ocidental” (Ibid., p.285). Devido à variação na forma, estilo de decoração, fabricação e queima das esculturas, entende-se que a própria Sociedade Nok mudou no decorrer do tempo. Uma dessas características mais notáveis é o processo de queima, realizado com baixas temperaturas, resultando em uma condição bastante frágil das esculturas.
Bernard Fagg |
Alguns sítios arqueológicos nigerianos foram classificados como pertencentes à cultura Nok por serem encontrados fragmentos associados de terracota e cerâmica. Esse “povoamento” da sociedade Nok pode ser comprovado pela abundância de cacos de cerâmica, pedras de amolar e machados de pedra polida. Em outro sítio foi descoberto terracotas quebradas, depositadas a uma distância de alguns metros, uma ao lado da outra. “Se eles pertencem a cemitérios não pôde ser provado neste caso, uma vez que nenhum osso foi encontrado. A razão para isso pode ser provavelmente o solo ácido” (Ibid., p.287). Encontrou-se também na orla do sítio Nok de Kochio uma parede esculpida em granito, junto de lajes de rocha com dimensões megalíticas erguidas para cercar uma área no centro do assentamento. Parece que a arte Nok possui uma relação com uma sofisticada arquitetura de pedra, completamente desconhecida até agora. “É inconcebível que as soberbas terracotas da cultura Nok tenham sido produzidas em grandes quantidades por uma comunidade atrasada” (Ibid., p.289). Pode-se especular que as terracotas de Nok pertencem a uma civilização africana antiga cujos outros restos ainda estão enterrados no solo.
Referências
AMEJE, James; BREUNIG, Peter; RUPP, Nicole. New Studies on the Nok Culture of Central Nigeria. Journal of African Archaeology Vol. 3. Goethe-Universität Frankfurt am Main: 2005, pp. 283-290.
BUSSOTTI, Luca; NHAUELEQUE, Laura António. A Invenção de uma Tradição: as fontes históricas no debate entre afrocentristas e seus críticos. História, São Paulo, v.37, 2016, p. 01-28.
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