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Múmia Egípcia em um tomógrafo na Itália |
Heródoto, geógrafo e historiador grego, nascido no século V a.C. em Halicarnasso, descreveu e narrou em seu livro “Ἰστορἴαι” (Histórias) diversos fatos que têm como pano de fundo as Guerras Médicas travadas entre as poleis da Grécia e o Império Aquemênida. No seu segundo livro, denominado pelo nome Euterpe (uma das nove musas da mitologia grega), Heródoto nos conta um pouco sobre como era o processo de mumificação no Egito Antigo, consistindo na lavagem, limpeza, unção e bandagem do corpo. Havia pessoas encarregadas por lei para realizar embalsamamentos e que faziam disso profissão. Após a morte de um ente querido e/ou um cidadão conceituado, a família, tanto os homens como as mulheres andavam pelas ruas batendo em seus peitos lamentando a morte dele. Após isso, levavam o corpo para o embalsamamento. Assim, os professionais mostravam modelos de mortos em madeira, pintados ao natural para a família escolher. Acertado o preço, os parentes retiravam-se e começava o ritual.
Os embalsamadores
geralmente trabalhavam em suas próprias casas, e procediam da seguinte forma
com os embalsamamentos mais caros: extraíam o cérebro pelas narinas com um
ferro recurvo e por meio de drogas introduzidas na cabeça. Depois faziam uma
incisão no flanco com uma pedra cortante da Etiópia e retiravam, pela abertura,
os intestinos, limpando-os cuidadosamente e banhando-os com vinho de palmeira e
óleos aromáticos. A partir daí, enchiam o ventre com mirra pura moída, canela e
com várias essências. Feito isso, salgavam o corpo e cobriam-no com natrão,
deixando-o assim durante setenta dias. Decorrido este tempo, lavavam o
corpo e envolviam-no inteiramente com faixas de tela de algodão (ou de linho)
embebidas em commi.
Essa secagem com natrão, que é um mineral constituído de carbonato de sódio
hidratado (Na2CO3.10H2O), aparece, por
exemplo, no Lago Natron, ao norte da Tanzânia. É interessante notar que esse
lago, por ser extremamente alcalino, petrifica os animais que, por algum
motivo, entrem nele, incrustando-os nos sais (excetuando os flamingos-pequenos e
as tilápias), semelhantemente o que ocorria no Egito Antigo nos processos de
embalsamamento. Pesquisadores supunham que o sal era usado para desidratar o
cadáver, mas cientistas da Universidade de York têm outra teoria: o corpo seria
imerso em uma solução de natrão antes de ser desidratado. Após testarem a ideia
no corpo de um ex-taxista inglês com sua autorização antes de morrer, especialistas em decomposição humana
ficaram impressionados com a preservação do corpo.
A questão dos setenta dias pode estar relacionada ao comportamento da estrela Sirius que por setenta dias desaparece do céu egípcio. Ao retornar, ela indica o início de um ano novo, o que coincidia com a cheia do Nilo, representando a renovação da vida. Findo o trabalho, o corpo era entregue aos parentes, que o encerravam numa urna de madeira feita sob medida, colocando-a na sala destinada a esse fim.
Entretanto existia mais duas maneiras de se fazer este processo. A primeira era feita através do uso de injeções no ventre do morto, sem fazer nenhuma incisão e sem retirar os intestinos, utilizando seringas com um licor untuoso tirado do cedro. Após isso, introduziam-nas igualmente pelo orifício posterior e arrolhavam-no, para impedir que o líquido saísse. Em seguida, salgavam o corpo, deixando-o assim durante determinado prazo. Então faziam escorrer do ventre o licor injetado. Esse líquido era tão forte que dissolvia as entranhas, arrastando-as consigo ao sair. Terminada a operação, entregavam-no aos parentes. O outro tipo, todavia, destinava-se aos mais pobres. Injetava-se no corpo o licor denominado por surmaia, envolviam o cadáver no natro durante setenta dias e depois devolviam-no aos parentes.
Quando
se tratava do corpo de uma mulher, principalmente se fosse bonita ou de
destaque, o processo era diferente, para que não houvesse violação do corpo. O
cadáver, portanto, só era levado para embalsamamento decorridos três ou quatro
dias após o seu falecimento.
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Pomba calcificada no Lago Natron |
Referências
COELHO,
Penélope. Lago Natron: as misteriosas múmias petrificadas da Tanzânia. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/lago-natron-mumias-tanzania.phtml. Publicado em 06
de jun. 2020. Acesso em: 19 de out. 2021.
HERÓDOTO.
História: Euterpe (Livro 2), eBooksBrasil, 2006
REDAÇÃO,
Da. Cientistas recriam antiga técnica de mumificação egípcia em ex-taxista
inglês. Disponível em: https://veja.abril.com.br/ciencia/cientistas-recriam-antiga-tecnica-de-mumificacao-egipcia-em-ex-taxista-ingles/. Atualizado em o6
mai. 2016. Publicado em 18 out 2011. Acesso em: 19 de out. 2021.
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