Durante os séculos XVI e XVII foram formados muitos “gabinetes de curiosidades” apresentando diversos objetos exóticos das explorações feitas nas Américas. Nesse tempo, diversos viajantes, religiosos e aventureiros esboçaram o que iríamos chamar postumamente de um estudo “pré-antropológico”. Já no decorrer do século XVIII, tivemos a gradual transformação desses “gabinetes” em museus. Houve um começo de um “projeto antropológico” associando o homem não mais como apenas o sujeito do conhecimento, mas o seu próprio objeto, principalmente após as “descobertas” coloniais na Oceania. No século XIX, com a ascensão de teorias positivistas, evolucionistas e o imperialismo na África, o panorama da Antropologia começou a ganhar contornos definidos. Estudiosos como Morgan, Tylor e Frazer foram importantíssimos para que esse projeto ainda pioneiro se tornasse a ciência que hoje nós conhecemos.
Lewis Henry Morgan (1818 – 1881) foi um advogado muito conhecido pela publicação do seu livro Ancient Society (1877), no qual dividiu a sociedade em três estágios: O primeiro é a Selvageria, o segundo é a Barbárie, e o terceiro é a Civilização. Morgan dividiu o primeiro período em três tipos de Selvageria: uma Inferior, associada ao consumo de frutas e castanhas, e o uso de uma fala articulada; uma Média, baseada em uma dieta de peixes e no uso de fogo; e uma Superior, utilizando-se de arco e flecha para caças. Da mesma forma, a Barbárie poderia ser classificada em um modo Inferior, com o uso da cerâmica; um modo Médio, com a domesticação de animais e o cultivo; e uma Superior, com o uso de instrumentos de ferro. Morgan estudou também os sistemas de parentescos, as regras de consanguinidade e afinidade através de seu método de comparação e pesquisa de campo que seriam tão explorados pela antropologia moderna posteriormente.
Por outro lado, Edward Burnett Tylor (1832-1917) foi o primeiro a dar uma definição formal do que seria a Cultura em seu livro Primitive Culture (1871). Para ele, esta seria composta por “todo comportamento que pode ser aprendido”. Em virtude disso, Tylor defendeu a ideia de que a tarefa da Antropologia seria estabelecer uma escala de civilização na humanidade. Seja através de suas crenças, partindo do animismo até as religiões monoteístas, ou seja através de suas atitudes para a sobrevivência, entendendo a humanidade como homogênea em sua natureza, embora situada em diferentes graus de civilização, não vendo existentes diferentes tipos de culturas, mas uma só, hierarquizada em estágios. Para ele, uma sociedade que se apoia mais na razão será mais evoluída do que a outra. Diante disso, o estudo da vida humana seria um ramo das ciências naturais.
Para complementar os outros dois autores, Sir. James George Frazer (1854-1941), o primeiro antropólogo social catedrático de uma Universidade, dizia que a Antropologia deveria buscar leis gerais que regularam a vida humana no passado e que, se a natureza fosse uniforme, deveriam regular no futuro. Porém, esse estudo dos nossos antepassados deveria se diferenciar exatamente por buscar as origens dessa vida, do pensamento e das instituições sociais. Dividiu a Antropologia em um “estudo da selvageria”, dos costumes e crenças desse período, e um “estudo do folclore” (as relíquias da selvageria nos pensamentos e instituições dos povos mais cultos). No seu livro The Golden Bough (1890), Frazer estabeleceu uma sequência evolutiva entre a magia, religião e a ciência, influenciando muitos autores, como Freud, com base no seu estudo do Totemismo.
Portanto, Morgan, Tylor e Frazer, embora hoje, muitas das suas teorias já não sejam utilizadas, deram um fundamento sólido para os próximos antropólogos que viriam, principalmente para confrontarem suas ideias e darem um novo sentido à Antropologia Contemporânea.
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