A Sociologia, enquanto ciência, surge no final do século XVIII, mas só vai se organizar melhor no decorrer do século XIX na Europa, a fim de compreender a realidade social que se delineava na época, estudar seus problemas e buscar resolvê-los. Assim é caracterizada como estudo das relações sociais. Diferentemente das outras disciplinas, ela não estuda apenas alguns aspectos sociais, mas o fato social em sí, as interações sociais, independente dos seus aspectos.
Durante a Idade Média, a fé e a ciência eram intimamente ligadas. A religião e a filosofia se confundiam num mesmo estudo. Porém, a partir do século XVI, tem início um movimento chamado Renascimento, no qual buscava uma ciência e filosofia independentes da religião e da tradição. O desenvolvimento racional e metodológico científico estava em foco. Esse movimento influenciou todas as esferas da sociedade, dando início à Idade Moderna, cujo período foi palco de grandes descobertas científicas e filosóficas. Houve um abandono gradual do metafísico, expressado melhor durante o século XVIII ou também chamado de “século das luzes”, devido seus filósofos pretenderem “iluminar” o conhecimento e a realidade escondidos, recebendo o nome então de iluministas.
O Iluminismo, pelo qual esse movimento ficou conhecido, põe o homem e a razão no centro de seus estudos, deixando de lado o Teocentrismo e se aprofundado no Antropocentrismo. A partir de seu surgimento, até ideias como o direito divino dos reis (Absolutismo) defendidos durante o Renascimento por pensadores como Maquiavel, Hobbes e Bodin “perdem força” diante das ideias de Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Desse modo, do ponto de vista filosófico, o pensamento sociológico começa a se apresentar como uma perspectiva racional e analítica da sociedade, deixando de lado as explicações baseadas na religião e no misticismo.
Do mesmo modo, no contexto histórico, além da passagem para a Modernidade, vemos duas grandes revoluções que contribuíram significativamente para a formação da sociologia enquanto disciplina: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, que são chamadas pelo historiador marxista Eric Hobsbawm de a "dupla revolução".
A Revolução Industrial começou na Inglaterra, no final do século XVIII, e rapidamente se espalhou por toda a Europa no século seguinte. Ela é caracterizada pelas grandes invenções que permitiram acelerar, de uma forma nunca vista antes, a produção de bens, se tornando independente da agricultura. Houve então, a transformação do artesanato e da manufatura para a maquinofatura. Fontes alternativas de energia, como o vapor e o carvão foram descobertas. No seu início, a indústria algodoeira foi a que mais se beneficiou dessas inovações, porém foi a siderúrgica (com o uso intenso do ferro) que marcou, e deu entrada já na Segunda Revolução Industrial com a descoberta da eletricidade.
Porém não foi apenas os modos de produção que foram alterados, mas a vida cotidiana de todos os trabalhadores e empresários. Na sociedade pré-industrial, os artesãos que produziam em suas casas, com suas ferramentas determinado bem que demorava dias para ser feito, agora era um trabalhador de uma fábrica operando uma máquina durante 14 horas; o tempo que era estabelecido por ele próprio, agora era debaixo de ordens e disciplina estabelecidos pelo patrão ou pelo dono da fábrica. Com a divisão das funções do trabalho, o antigo artesão perdeu a noção do todo que era construído, havendo um empobrecimento intelectual devido as funções repetitivas diárias, sem se aprofundar em um aprendizado quando fazia para se tornar mestre de ofício, sem contar as situações insalubres e desgastantes em que viviam. Houve assim, a chegada de vários problemas como epidemias, alcoolismo, criminalidade, suicídio e desemprego, colocando em xeque qual disciplina acadêmica realmente poderia estudar essas situações. Surgiu então a necessidade de criar uma nova disciplina: a Sociologia.
As relações sociais também foram alteradas no âmbito fabril. O industrial era o dono dos meios de produção e do maquinário e o operário era dono da sua força de trabalho que vendia em troca de um salário. Toda essa mudança e o fortalecimento dos comerciantes, agora donos de fábricas (os burgueses), trouxeram uma nova revolução em outro lugar da Europa, a França, que só viria a intensificar a Revolução Industrial.
A Revolução Francesa em 1789, foi marcada pelo fim do Absolutismo Monárquico, dos privilégios da nobreza, do feudalismo, a ascensão da burguesia e a separação da Igreja e Estado preparando caminho para a chegada da industrialização, que só aconteceria mais tarde na sociedade francesa.
A organização da cultura e a educação, antes feitas pela Igreja, agora seriam promovidas pelo Estado. O modo de pensar iluminista foi a centelha que faltava para explodir a revolução, o que de fato ocorreu. Assim, pensadores e estudiosos da época preocuparam-se em desenvolver um estudo de todas essas mudanças, seus significados, motivos e alterações estruturais na sociedade devido a questões que antes não havia. Portanto, diante das revoluções ocorridas na Europa e seus problemas acarretados, surge a Sociologia procurando entender as novas relações entre indivíduo e sociedade e sua influência no comportamento humano até os dias de hoje, na contemporaneidade.
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