Já ouviu falar de Luta de
Classes, Socialismo, Mais-Valia, Materialismo histórico-dialético, Revolução do Proletariado, Forças e Relações de Produção? Se já ou se não, afinal, tanto
faz, leia esse post e você com certeza entenderá de fato o que Karl Marx e suas teorias diziam, e como elas influenciaram e influenciam tantos autores até hoje.
Karl Heinrich Marx nasceu em Trier, cidade da antiga Prússia (atual parte da Alemanha), em 1818 e morreu em Londres, no Reino Unido, em 1883. Foi um pensador do século XIX juntamente com Auguste Comte, apesar de suas visões divergirem drasticamente. Enquanto Comte via um progresso no tempo marcado pela industrialização, e o consenso social como fundamental para o desenvolvimento, Marx via que a Revolução Industrial só acentuou a luta de classes que culminaria então no estado da sociedade socialista, pois via a contradição da sociedade capitalista como fundamental para isso.
A obra de Marx pode ser dividida em partes econômicas, sociológicas, filosóficas e históricas. Para começar, iremos analisar o aspecto filosófico e histórico de sua obra presente na sua teoria do materialismo histórico-dialético que influenciará tanto a sua análise econômica como a sua visão da sociedade.
A visão materialista da história teve como contraposição a visão idealista do filósofo germânico Friedrich Hegel (1770-1831), onde este apresentava a dialética das ideias internas que se sucedem na história enquanto Karl Marx apresentava a dialética dos modos de produção, e logo das estruturas sociais, que se sucedem na história humana. É perceptível notar que Marx herdou de Hegel o método dialético, porém se utilizou dele para suas ideias materialistas. Em oposição a todas as teorias idealistas, o materialismo histórico não considera a ideia como o elemento essencial primário, mas como a consequência de certas condições materiais, logo, algo secundário. Assim, para Marx, é o ser social que determina a consciência social, o material que determina o espiritual, a vida material determina a vida intelectual. Trocando o sistema de Tese-Antítese-Síntese na sua análise social de Hegel na qual este punha o Espírito Individual (Tese), o Espírito Coletivo (Antítese) e o Espírito Absoluto (Síntese), agora por Burguesia como Tese, o Proletariado como Antítese e a Revolução do Proletariado como a Síntese, Marx desenvolveu historicamente essa filosofia tendo como base sua máxima: “a luta de classes é o motor da história” e a contradição nos períodos históricos é o que a movimenta. Logo, para Marx, são as “relações sociais que se impõem aos indivíduos, não se levando em conta suas preferências. A compreensão do processo histórico está condicionada à compreensão de tais relações sociais enquanto acima dos indivíduos” (ARON, 2008, p.134).
Desse modo, Marx divide a história do
mundo ocidental em três etapas: Antiga, Feudal e Capitalista, sendo a próxima
etapa a Socialista. A primeira é caracterizada pelo regime escravocrata; a
segunda pelo campesinato, servidão; e a terceira pelo trabalho assalariado, que
na análise marxista é a última forma de exploração do homem pelo homem, sendo
substituída, indubitavelmente pela sociedade socialista. Para
continuarmos, devemos estabelecer algumas definições do estudo marxista.
Primeiro, o que são classes sociais? Uma classe social é um grupo que ocupa um
lugar determinado no processo de produção da vida material, ou seja, o que os indivíduos
são no momento do trabalho. Destarte, com base na sua análise da sociedade
capitalista, Marx pôs que por mais que existissem outras classes sociais além
da proletária (aquela que tem como propriedade sua força de trabalho) e da
burguesa (aquela que tem como propriedade os meios de produção), no final das
contas, toda divergência entre elas se resumiria a essas duas, onde todos no
final estariam ou do lado capitalista ou do lado dos defensores do socialismo:
os proletários.
E as forças e relações de produção, o que são? As forças de
produção são basicamente a capacidade de uma sociedade produzir, posto de outra
forma, as suas forças, meios, técnicas e formas de organizar o trabalho que a
sociedade utiliza para produzir aquilo do que necessita. Já as relações de
produção são essencialmente as relações de propriedade, ou seja, os tipos de
propriedade que existem e como são distribuídos os bens produzidos, de acordo
com esses tipos (Sell, 2002). Falta pensar ainda no conceito
de super e infraestrutura, que nada mais são do que as bases econômicas da
sociedade. A Infraestrutura é constituída pelas forças e relações de produção;
enquanto a Superestrutura é formada pelas instituições políticas e jurídicas,
bem como as ideologias, filosofias e os modos de pensar.
Como descrito anteriormente, é a
contradição entre as forças e as relações de produção que movem a história, e
no caso da sociedade capitalista, o caráter contraditório se manifesta no fato
de que há um crescimento dos meios de produção, que em vez de se traduzir pela
elevação do nível de vida dos trabalhadores, leva a um duplo processo de
proletarização e pauperização. Nessa contradição existente, a
revolução que Marx espera não é acidental, mas uma necessidade histórica. Para
isso as relações de produção socialistas deveriam amadurecer na sociedade e as
forças de produção deveriam se desenvolver dentro da sociedade capitalista,
antes que se produzisse a revolução que marcaria o fim da “pré-história” da humanidade.
Agora vamos analisar o aspecto
econômico do pensamento marxista, que está presente principalmente na sua
obra O Capital (1867). Temos como base a teoria do
valor-trabalho, onde o “valor de qualquer mercadoria é, de modo geral,
proporcional à quantidade de trabalho social médio nela contida“ (ARON, p.140);
e o valor do trabalho é medido como o valor de qualquer mercadoria. Entretanto,
Marx constata algo a partir dessas duas proposições que vai diferenciar a obra
dele de todos os outros autores economistas: “de que o tempo de trabalho
necessário para o operário produzir um valor igual ao que recebe sob forma de
salário é inferior à duração efetiva do seu trabalho” (ARON, p.141). A partir
disso, ele elabora a teoria da mais-valia, que é a quantidade de valor
produzido pelo trabalhador acima do tempo de trabalho necessário para produzir um
valor igual ao que recebe sob a forma de salário. Ou seja, o "excedente" da produção, aquela parte que significa o "lucro" do "patrão". Por exemplo, se você trabalha 8 horas por dia para ganhar 300 reais, se tivesse trabalhado apenas 5 horas, você já teria produzido o equivalente aos 300 reais ganhos. Mas você trabalha essas 3 horas a mais para o "lucro" do patrão. É claro, que na prática não é isso, existem muitas variantes no meio, mas que no momento não nos interessa, pois veremos isso no próximo post. Logo, o que caracteriza a sociedade capitalista, o lucro, é visto por Marx como uma das principais
formas de exploração. Uma das formas de aumentar essa exploração, através da mais-valia,
é prolongar a duração do trabalho ou reduzi-lo e aumentar a
produtividade.
Para entender esse conceito, precisamos entender o que é capital constante e capital variável. O primeiro é parte do capital das empresas que vem das máquinas e matérias-primas investidas na produção e não cria a mais-valia, pois se transfere para o valor dos produtos, e o segundo é basicamente o pagamento dos salários. A composição orgânica do capital é a relação entre o capital variável e o capital constante. A taxa de exploração é a relação entre a mais-valia e o capital variável. A taxa de lucro é a soma do capital constante e do capital variável e a concorrência a força a uma taxa média. Marx conclui daí, que a taxa de lucro tende a baixar à medida que a composição orgânica do capital se modifica, reduzindo a parte do capital variável no capital total, o que levaria a autodestruição do capitalismo pois as forças de produção cresceriam indefinidamente enquanto as relações de produção estabilizariam as rendas distribuídas às massas; ou então pela crescente insatisfação dos trabalhadores e sua consequente revolta.
No aspecto sociológico, que já foi
destrinchado quando dito sobre as sociedades na história, temos que a teoria
marxista apresenta impressionantes modos de análise que a tornaram mundialmente
conhecida e ao mesmo tempo altamente passível de debates e reprovações, devidos
a vários equívocos e situações descritas que nunca conseguiram ser comprovadas
pelo tempo e pela experiência. A URSS foi e ainda é o maior exemplo de
tentativa de implante do marxismo político, econômico e social e que não teve
êxito. Porém não podemos dizer o mesmo de sua filosofia do materialismo
histórico e de sua ideia de ideologia, que são as “representações
características de uma época e de uma sociedade, produzidas pela prática social”
(PAIXÃO, 2012, p.98). Todavia, essas representações não condizem
com a realidade tal qual ela é. Diante disso, muitos pensadores, educadores
e historiadores irão se utilizar de seu método para suas pesquisas
historiográficas, psicológicas e sociais, tais como Eric Hobsbawm, Lev
Vygotsky, Zygmunt Bauman, Anthony Gramsci, dentre muitos
outros que direta ou indiretamente utilizaram uma visão marxista
de mundo.
Sobre os equívocos e autoritarismos do marxismo, um aprofundamento do socialismo, comunismo e do capitalismo, deixarei para falar em um próximo post, para que entendamos primeiro as teorias básicas de Marx que nortearam todo o seu estudo, para depois refutarmos e discorremos sobre esses conceitos.
Referências:
ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Editora Martins Fontes, 2008
PAIXÃO, A.E. Sociologia Geral. Editora Intersaberes, 2012
SELL, Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber. Editora
Edifurb,
2002THALHEIMER, August. Introdução ao Materialismo Dialético: Fundamentos da Teoria Marxista. Revista dos Tribunaes, São Paulo: 1934. Digitado por CVM em 2014.
Comentários
Postar um comentário